HISTÓRIA: Semana Maldita na Globo

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quarta-feira, 21 de março de 2018

HISTÓRIA: As Copas na Telinha - 1ª Parte

Pois é pessoal, estamos em ano de Copa do Mundo e às vésperas do maior evento do ano, finalmente vou abordar um assunto do qual me interesso tanto quanto a própria história da TV Brasil: a transmissão das Copas do Mundo pela TV brasileira ao longo dos anos. Como todos devem saber, a televisão foi oficialmente inaugurada no Brasil em 1950, exatamente dois meses depois do fim da competição realizada neste país. Foi uma pena que o empresário Assis Chateaubriandt não aproveitou a realização do evento para os eventuais testes e experiências do novo veículo que iria surgir dali a pouco. O que poderia ser feito: três das seis cidades-sedes daquela competição abrigariam os testes das transmissões dos jogos, Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte, as partidas ocorreram às 15 e às 18 horas e os aparelhos receptores experimentais seriam instalados em diversas salas públicas de exibição (como teatros e cinemas, cobrando ingresso do público) espalhadas pelos centros das três capitais, além de seletas plateias montadas nas sedes dos Diários Associados com convidados importantes, onde em cada uma delas seriam montadas antenas receptoras para a exibição das imagens das partidas. Num desses testes poderiam ter feito transmissões em cadeia simultânea englobando essas três cidades acompanhando um mesmo jogo ao mesmo tempo. A Copa de 50 seria uma vanguarda sem tamanho para a própria história da TV brasileira, não acham?
Em 1954, a competição foi realizada na Suíça e para acompanhar os jogos ao vivo, só no rádio ou em serviços de alto-falante, como vinha ocorrendo em anos anteriores. Na televisão, eram divulgados apenas os resultados dos jogos nos noticiosos da noite, até porque a TV entrava no ar somente à tarde e os jogos eram na parte da manhã. Na Europa, esta foi a primeira Copa transmitida pela televisão através da formação de uma cadeia de emissoras de oito países: França, Bélgica, Itália, Holanda, Dinamarca, Inglaterra, Suíça e Alemanha Ocidental, com a Eurovision Network. Em 1958, no Mundial da Suécia, foi a mesma coisa, mas foi a primeira vez que imagens dos jogos foram levados ao ar na nossa telinha. A Sveriges TV Radio de Estocolmo foi a responsável pela geração de imagens a 11 países europeus e a gravação de alguns jogos graças a um aparelho chamado cinescópio, que era uma filmadora cinematográfica que podia gravar 60 minutos ininterruptos de imagens, praticamente o pai do videotape. A emissora sueca também gravou os jogos pelo método mais simples, com uma câmera de cinema que podia registrar apenas 10 minutos de imagens. Foi aí que surgiu aquela famosa história de que a TV Tupi comprou o filmete da estreia do Brasil no torneio, vencendo a Áustria por 3x0, por US$ 5 mil e que o rolo de filme 16 mm veio parar por engano na TV Rio. E foi mais de uma vez, a TV Rio espertalhona anunciou com pompas, por exemplo, a exibição do filme do jogo entre Brasil e Inglaterra (empate em 0x0) e com direito a patrocínio: Biscoitos Aymoré, Philco e Lojas Ponto Frio. Foi somente na reta final da Copa, com o primeiro triunfo da nossa Seleção Brasileira, que o mal-entendido foi corrigido e a TV Tupi enfim pôde exibir os jogos decisivos que ajudaram o Brasil a conquistar sua primeira Copa do Mundo.
No Mundial do Chile, em 1962, o público pode ver pela primeira vez os jogos do Brasil na íntegra. Isso se deu graças a grande novidade da TV na década de 60: o vídeo-tape, que ajudavam e muito a reduzir o custo de produção de qualquer programa. Os tapes dos jogos eram levados ao ar de dois a quatro dias depois das oito partidas realizadas em Viña De Mar, sede dos jogos de Brasil e México. Como os dois países estavam no mesmo grupo da competição, uniu-se o interesse de ambos pelos jogos da competição, do Grupo 3 pra se mais específico. O Tele-Sistema Mexicano (hoje Televisa) trouxe de navio seu caminhão de transmissão externa Tele-Transporte e o instalou no Estádio Sausalito para que todos os jogos lá disputados fossem gravados e exibidos dias depois para brasileiros e mexicanos. Os Diários Associados do Brasil fez acordo imediato para a exibição dos jogos do Brasil e quem bancou tudo foram as Organizações Novo Mundo-Vemag (Cofibrás, Vemag, Banco Novo Mundo, Seguradora Miramar-Itamaraty e Grupo Imobiliário Novo Mundo). Uma cadeia de 20 emissoras em 13 cidades brasileiras foi formada para a exibição dos tapes dos jogos da campanha pelo bicampeonato, transportados por malote aéreo da Vasp sob escolta da Força Aérea Brasileira: TV Cultura (Canal 2, São Paulo), TV Tupi (Canal 4, São Paulo), TV Paulista (Canal 5, são paulo), TV Record (Canal 7, São Paulo), TV Excelsior (Canal 9, São Paulo), TV Tupi (Canal 6, Rio de Janeiro), TV Continental (Canal 9, Rio de Janeiro), TV Rio (Canal 13, Rio de Janeiro), TV Brasília (Canal 6, Brasília), TV Alvorada (Canal 8, Brasília), TV Marajoara (Canal 2, Belém), TV Ceará Rádio Clube (Canal 2, Fortaleza), TV Rádio Clube de Pernambuco (Canal 6, Recife), TV Itapoan (Canal 5, Salvador), TV Paraná (Canal 5, Curitiba), TV Piratini (Canal 5, Porto Alegre), TV Rádio Clube de Goiás (Canal 4, Goiânia), TV Itacolomi (Canal 4, Belo Horizonte), TV Tupi Difusora (Canal 13, Ribeirão Preto) e TV Vitória (Canal 6, Vitória).
Como na época um vídeo-tape quadruplex da marca 3M Scotch gravava até 60 minutos de imagens, era preciso duas fitas para registrar os 90 minutos de cada partida. Antes dos jogos, tinha ainda um pré-jogo mostrando todo o preparatório dos jogadores brasileiros. Os jogos registraram 45% de audiência na época e a equipe era formada por Walter Abrahão, Raul Tabajara (narradores), Ary Silva, Flávio Iazzeti, Paulo Planet Buarque (comentaristas) e José Carlos "Tico-Tico" Moraes (repórter). Mas nem toda a campanha do bicampeonato foi "transmitida": a semifinal entre Brasil e Chile seria em Viña Del Mar, mas os organizadores da Copa, de olho na renda e no grande interesse dos torcedores pelo jogo, o local acabou sendo transferido para o Estádio Nacional de Santiago justamente na véspera, fazendo com que Tchecoslováquia e Iugoslávia jogassem em Viña Del Mar, a 110 km da capital chilena e não haveria tempo para o Tele-Transporte se transferir de local. Uma nota curiosa: a televisão chilena estava dando seus primeiros passos e transmitiu 10 jogos da competição, apenas aqueles disputados no Estadio Nacional através de uma cadeia simultânea promovido pelos canais 9 (atual Chilevisión) e 13 da capital chilena e que tinham alcance limitado naquela região. O interesse da população local pelas transmissões da TV era tal que foram colocados vários aparelhos receptores da marca Philips em pontos estratégicos de Santiago para ninguém perder um lance sequer.

Para a Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra, as negociações da exibição no Brasil dos jogos da competição começaram em 1963 quando a Philips contatou os organizadores da Copa para patrocinar aquela que seria a primeira Copa transmitida ao vivo para a América Latina através do satélite Telstar. A Rádio Bandeirantes de São Paulo, prestes a inaugurar sua emissora de televisão (que entraria no ar quatro anos mais tarde), entrou nas negociações com uma impressionante proposta de exclusividade das transmissões diretas dos jogos para todo o Brasil e América do Sul. A ideia vanguardista não foi pra frente devido aos sucessivos adiamentos da estreia da TV Bandeirantes e também por causa dos problemas técnicos que impossibilitava transmissões diretas do Hemisfério Norte para o Hemisfério Sul. Logo, a TV Tupi do Rio entrou na negociação para transmitir em vídeo-tape mesmo os jogos da Copa do Mundo e ainda estudou a possibilidade da transmissão ao vivo, mas através do satélite norte-americano Relay III. Sem sucesso. Chegou o ano da Copa e nenhuma emissora que formaria o pool podia arcar a despesa de Cr$ 450 milhões pelos direitos de exibição no Brasil, mais transporte e aquisição dos tapes para as gravações, devido a expiração de prazo para elaboração de planos com seus patrocinadores, estava muito em cima. O jeito foi recorrer aos cofres públicos e o Governo do Estado de São Paulo, através da figura de Laudo Natel (também conselheiro vitalício do São Paulo Futebol Clube), por meio de aprovação da Assembleia Legislativa, aprovou uma verba de Cr$ 1,5 bilhão (representando apenas 0,7% do orçamento na época) para pôr a Copa no ar, cuja despesa foi dividida com os patrocinadores. As emissoras, por sua vez, prometeram ressarcir tal valor com a venda dos tapes dos jogos para emissoras de outros estados. Então, a TVs Tupi e Excelsior lideraram uma cadeia formada por 36 emissoras brasileiras de televisão e os tapes iam pro ar dois dias depois do término de cada jogo, porém, uma cláusula exige as emissoras em exibir os jogos duas vezes, de noite e de manhã. Os vídeo-tapes eram adquiridos à preço de custo para as emissoras fora do eixo Rio-São Paulo e transportados direto de Londres ou Paris, dependendo do tráfego aéreo. Uma vez chegando ao Brasil, os tapes tiveram de ser copiados pois o sistema de gravação na Inglaterra era diferente da utilizada no Brasil e todo esse trabalho demorava duas horas para ser concluído. Foram levados ao ar apenas seis jogos da primeira fase, contando os três do Brasil, e mais alguns até a grande final. As partidas tiveram a narração de Oduvaldo Cozzi e Nelson Spinelli e comentários de Geraldo Romualdo da Silva e Rubens Pecce. Só que não contavam com a astúcia da novata TV Globo, que realizou um teste em circuito fechado para transmitir ao vivo a estreia do Brasil na competição, vencendo a Bulgária por 2x0, porém descartou a ideia por problemas técnicos de comunicação entre a estação provisória de comunicações de Jacarepaguá e o satélite Relay III.
E chegamos finalmente em 1970, no Mundial do México, ocorreu a primeira transmissão ao vivo de um grande evento do exterior para o Brasil, que começou a nova década com cerca de 5 milhões de televisores para 54 milhões de telespectadores e desde março de 1969 integrava o consórcio do satélite norte-americano Intelsat III que englobava 63 países, porém, apenas 50 desses concessionários dispunham de infra-estrutura necessária para mostrar os jogos da competição em tempo real. Os direitos de transmissão foram adquiridos em uma parceria entre o Tele-Sistema Mexicano e a Eurovision Network do Reino Unido da Grã-Bretanha, que encheram os olhos dos telespectadores pelo mundo com uma série de tecnologias inéditas durante a exibição da Copa: câmeras instaladas em diversos ângulos para captarem melhor visão da partida (em plano fechado, de frente ou por trás do gol) e os lances em repetição apresentados pelo processo de câmera-lenta em rápidos segundos. Em cada estádio, seis câmeras ditaram o espetáculo televisivo dos jogos da Copa do Mundo: duas ficaram atrás de cada um dos gols, outras duas estiveram posicionadas a uns 20 metros de altura, direcionadas na linha central do campo, acompanhando o jogo permanentemente (uma delas equipada com uma lente teleobjetiva potente apresentando os detalhes da partida e funcionou como reserva, em caso problemas técnicos com a outra) e mais duas em um estúdio do estádio (uma para as entrevistas e outra para a superposição de slides com informações escritas porque ainda não existe o gerador de caracteres).
A emissora mexicana, geradora oficial da Copa, contou com 34 caminhões de externa e 25 câmeras coloridas que estiveram à disposição nos cinco estádios (Cidade do México, León, Guadalajara, Puebla e Toluca) durante a duração do torneio. Para os países do hemisfério norte a transmissão foi em cores no sistema NTSC, mas para os países do hemisfério sul, como o Brasil, a recepção foi em preto-e-branco. Porém, a Empresa Brasileira de Telecomunicações (EMBRATEL) efetuou durante as partidas do Brasil os testes para a televisão em cores em três localidades: Brasília (Cine Esplanada), São Paulo (Auditório do Círculo Italiano, no Edifício Itália) e Rio de Janeiro (Salão Nacional da EMBRATEL, no Palácio das Laranjeiras). Em cada uma delas foi equipado um telão colorido de 12 metros quadrados para uma platéia de 400 convidados. A TV Cultura de São Paulo possuía um vídeo-tape no sistema NTSC e pôde gravar as imagens dos jogos do Brasil em cores, a TV Bandeirantes estava em fase de testes de transmissão para esse tipo de imagem e a Rede Globo investiu mais US$ 30 mil para transmitir em cores os boletins diários da Seleção Brasileira com 10 minutos de duração a grade noturna.
Uma norma do contrato que possibilitava as transmissões diretas da Copa era a assinatura do documento por representantes das embaixadas mexicanas para evitar desistências de países pequenos, porém, surpresa maior aconteceu justamente no Brasil. Em junho de 1969, a agência Somos Publicidade, entrou em contato com as redes Excelsior e Associada (TV Tupi) e firmou parceria entre ambas com o Ministério das Comunicações para a transmissão da Copa do Mundo, através de um contrato de patrocínio exclusivo da Esso, que desembolsou US$ 15 milhões para garantir o patrocínio da transmissão dos 32 jogos da competição para toda a América Latina. As duas emissoras brasileiras então assinaram contrato com a distribuidora oficial de sinal e detentora dos direitos de imagem da competição pela América Latina, a VT Latin Programes do Panamá. Nesse contrato, abria um prescindente em que qualquer outra emissora brasileira poderia integrar a cadeia de transmissão da Copa, entrando em contato com as duas emissoras. A Rede de Emissoras Independentes, lideradas pelas TVs Record e Bandeirantes, beliscou a vaga. Até aí tudo bem, só que seis meses antes do início da competição, as duas emissoras pede o cancelamento do contrato que garantia esses direitos, isso porque não concordavam com a exclusividade da transmissão do torneio sob a alegação de que "a Copa é para todos" e estavam começando a negociar seus horários a empresas nacionais ao invés de abrir espaço a um único patrocinador estrangeiro, o que ordenava o contrato. Segundo os diretores dessas estações, um patrocinador estrangeiro transforma as emissoras locais em repetidoras de imagens, o que impede a circulação interna de dinheiro entre as emissoras brasileiras de TV. A TV Excelsior teve que desistir do negócio e significou caminho aberto para a Rede Globo liderar a transmissão, alegando que várias localidades atingidas por ela poderiam correr o risco de ficar sem as imagens da Copa. Essa visão expansionista levou a TV Tupi reconsiderar o acordo.
Para a apresentação das transmissões diretas, foi formada uma cadeia de 45 emissoras espalhadas pelo Brasil, a tão lembrada Rede Brasileira de Televisão, liderada pela EMBRATEL, que interligou São Paulo, Rio de Janeiro, Niterói, Belo Horizonte, Vitória, Porto Alegre, Florianópolis, Curitiba, Aracaju, Maceió, João Pessoa, Natal, Recife, Salvador, Fortaleza, São Luís do Maranhão, Teresina, Belém do Pará, Campo Grande, Goiânia, Brasília e demais localidades. Parte dos estados do Pará e do Mato Grosso e toda a Região Norte não fizeram parte desse pool e por essa razão tiveram que exibir as partidas em vídeo-tape por malote aéreo e exibidos às 23 horas com um ou dois dias de diferença, procedimento comum entre as emissoras ao enviar capítulos de novelas para outras cidades. As onze transmissões diretas que foram programadas se iniciaram 10 minutos antes do horário marcado e se encerraram de um a 5 minuto depois, dependendo da necessidade. De segunda à sábado, os jogos aconteceram, pelo horário brasileiro, às 19 horas e aos domingos às 15 horas. Antes dos jogos do Brasil, foram inseridos filmetes de um minuto do Governo Federal, patrocinados pela Caixa Econômica Federal e Loteria Esportiva. Durante o período da Copa, foram também programadas reprises de oito jogos transmitidos ao vivo, inclusive os do Brasil, pela EMBRATEL, às 11 horas da manhã de todo sábado.
O custo para a transmissão da Copa do Mundo para a televisão brasileira foi de US$ 1 milhão e 150 mil, equivalente a Cr$ 4,5 milhões da época, e as agências de publicidade McCainn Ericksonn e J.W. Thompson, representando seus clientes Gillette, Esso e Cia. de Cigarros Souza Cruz, se prontificaram em cobrir o valor da milionária importância, inserindo seus anúncios durante e nos intervalos de cada jogo. O próprio Governo Federal teria o patrocínio exclusivo das transmissões divulgando a Loteria Esportiva, mas foi reconsiderado depois que o presidente Emílio Garrastazu Médici recebeu ofício das agências alegando que o fato seria "um desprestígio para o anunciante comum" e então determinou prazo de 48 horas (cumprido à risca) para que o patrocínio privado fosse fechado. Além das transmissões ao vivo, foi programado uma exibição de 21 vídeo-tapes de outras partidas da Copa apresentados em cadeia para São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte às 23 horas. As cidades que não fizeram parte dessa cadeia, mostraram os tapes dos demais jogos por via-aérea em outras datas. A narração desses tapes feito aqui no Brasil foram de Léo Batista, José Lino e Rui Viotti (que entravam no ar nas transmissões ao vivo caso houvesse problemas de recepção do México).
A Rede Brasileira de Televisão foi encabeçada pela Rede Globo de Televisão, Rede de Emissoras Associadas (TV Tupi) e Rede de Emissoras Independentes (TVs Rio, Record e Bandeirantes). Juntas enviaram uma equipe de 16 profissionais brasileiros de TV, sendo cinco locutores, quatro comentaristas, três cinegrafistas, três repórteres e um chefe: Geraldo José de Almeida, Walter Abrahão, Oduvaldo Cozzi, Fernando Solera, Fernando Sasso (narradores), João Saldanha, Rui Porto, Geraldo Bretas, Leônidas da Silva (comentaristas), Armando Nogueira, Chico de Assis, Cidinha Campos (repórteres), Gabriel Condorfer, Laerte Garcia Rosas, Hilário Marcelino (cinegrafista) e José de Oliveira Vaz (chefe da equipe). O fato fez com que todos eles se dividissem e ficassem hospedados ou no Hotel Maria Isabel, na Cidade do México, ou no Hotel Parador San Javier, em Guadalajara, onde os brasileiros estavam concentrados. Em qualquer estado, o público poderia escolher "sua estação preferida" nos jogos do Brasil pois som e imagem eram os mesmos para todas as emissoras. Cada tempo de jogo e os comentários do intervalo foi de inteira responsabilidade de uma equipe das três redes que lá estavam. As TVs Excelsior, Continental, Cultura e Gazeta aderiram a cadeia brasileira de televisão mostrando os jogos do Brasil (as outras partidas, a retransmissão era facultativa), através da Portaria 265, assinada pelo Ministro das Comunicações Hygino Corsetti dois dias antes da abertura oficial da Copa, comprovando que a competição era também serviço de utilidade pública. Sendo assim, as transmissões do jogos do Brasil registraram recordes de audiência, alcançando a marca de 93%, pontuação superior do que a transmissão da chegada do homem à Lua ocorrida no ano anterior.
Naquele tempo, processo de transmissão de imagens mexicanas e áudio brasileiro se transformavam em sinais eletrônicos. Um centro controlador em Guadalajara verificava os sinais de vídeo e as selecionava para uma transmissão que viajava até o Centro Distribuidor de Rádio e Televisão do México, em Tulacingo, sempre por microondas. O som segue direto por ondas de rádio e um transmissor de alta potência com antena especial na Cidade do México envia os sinais de imagem e som e os transmite ao satélite Intelsat III. No Brasil, era iniciado o processo de reconversão de sinais, na Estação Terrena de Comunicações Via-Satélite em Itaboraí, Guanabara apelidado de Tanguá I, onde 40 funcionários da EMBRATEL verificavam e controlavam a qualidade dos sinais e do satélite e sobrepunham os anúncios comerciais no intervalo. A imagem chegava por microondas até os centros de TV da EMBRATEL, localizados em vários estados, e mais uma vez por torres repetidoras posicionadas 50 km de distância uma das outra indo às emissoras locais, e o áudio viajava direto pelo rádio. Os estúdios das emissoras transformavam os sinais da imagem em cores para o preto-e-branco e seus transmissores alcançavam finalmente as antenas dos receptores de TV domésticos. Os sinais eletrônicos originados no México são finalmente reconvertidos em imagem e som. Caso ocorresse alguma falha técnica no satélite, havia um canal de reserva no Early Bird, colocado próximo ao Intelsat III. Como o percurso foi grande, havia uma diferença de um quarto de segundo entre o gol no México e a vibração no Brasil. O final da história todos sabem: Brasil tricampeão do mundo!!!


Quanto Custou a Copa do Mundo de 1970 aos Cofres da Televisão Brasileira?

* US$ 715 mil pelos direitos de transmissão (pagos à geradora oficial de imagens, o Tele-Sistema Mexicano)
* US$ 285 mil para as despesas (passagens de transporte, vídeo-tapes, impostos, instalações, hospedagem e estada dos locutores)
* US$ 150 mil pela transmissão direta de 11 jogos (cota total fixada pelo DENTEL através do uso do canal de satélite, sem contar os 5 dólares de acréscimo por cada minuto estourado)
Total: US$ 1 milhão e 150 mil



Transmissões diretas via EMBRATEL em rede nacional e suas escalas:

31 de Maio, Domingo
14h00: Cerimônia de Abertura do IX Campeonato Mundial de Futebol
15h00: México 0x0 União Soviética - Cidade do México
1º Tempo: Fernando Sasso e Geraldo Bretas (Emissoras Associadas)
Intervalo: Fernando Solera e Leônidas da Silva (Emissoras Independentes)
2º Tempo: Geraldo José de Almeida e João Saldanha (Rede Globo)

2 de Junho, Terça-Feira
19h00: Peru 3x2 Bulgária - León
1º Tempo: Geraldo José de Almeida e João Saldanha (Rede Globo)
Intervalo: Fernando Sasso e Geraldo Bretas (Emissoras Associadas)
2º Tempo: Fernando Solera e Leônidas da Silva (Emissoras Independentes)

3 de Junho, Quarta-Feira
19h00: Brasil 4x1 Tchecoslováquia - Guadalajara
1º Tempo: Fernando Solera e Leônidas da Silva (Emissoras Independentes)
Intervalo: Walter Abrahão, Oduvaldo Cozzi e Rui Porto (Emissoras Associadas)
2º Tempo: Geraldo José de Almeida e João Saldanha (Rede Globo)

6 de Junho, Sábado
19h00: Uruguai 0x0 Itália - Puebla
1º Tempo: Fernando Solera e Leônidas da Silva (Emissoras Independentes)
Intervalo: Geraldo José de Almeida e João Saldanha (Rede Globo)
2º Tempo: Fernando Sasso e Geraldo Bretas (Emissoras Associadas)

7 de Junho, Domingo
15h00: Brasil 1x0 Inglaterra - Guadalajara
1º Tempo: Geraldo José de Almeida e João Saldanha (Rede Globo)
Intervalo: Fernando Solera e Leônidas da Silva (Emissoras Independentes)
2º Tempo: Walter Abrahão e Rui Porto (Emissoras Associadas)

10 de Junho, Quarta-Feira
19h00: Brasil 3x2 Romênia - Guadalajara
1º Tempo: Oduvaldo Cozzi e Rui Porto (Emissoras Associadas)
Intervalo: Geraldo José de Almeida e João Saldanha (Rede Globo)
2º Tempo: Fernando Solera e Leônidas da Silva (Emissoras Independentes)

11 de Junho, Quinta-Feira
19h00: Inglaterra 1x0 Tchecoslováquia - Guadalajara
1º Tempo: Fernando Sasso e Geraldo Bretas (Emissoras Associadas)
Intervalo: Fernando Solera e Leônidas da Silva (Emissoras Independentes)
2º Tempo: Geraldo José de Almeida e João Saldanha (Rede Globo)

14 de Junho, Domingo
15h00: Brasil 4x2 Peru - Guadalajara
1º Tempo: Fernando Solera e Leônidas da Silva (Emissoras Independentes)
Intervalo: Oduvaldo Cozzi, Geraldo Bretas e Rui Porto (Emissoras Associadas)
2º Tempo: Geraldo José de Almeida e João Saldanha (Rede Globo)

17 de Junho, Quarta-Feira
19h00: Brasil 3x1 Uruguai - Guadalajara
1º Tempo: Geraldo José de Almeida e João Saldanha (Rede Globo)
Intervalo: Fernando Solera e Leônidas da Silva (Emissoras Independentes)
2º Tempo: Oduvaldo Cozzi, Geraldo Bretas, Walter Abrahão e Rui Porto (Emissoras Associadas)

20 de Junho, Sábado
19h00: Alemanha Ocidental 1x0 Uruguai - Cidade do México
1º Tempo: Fernando Sasso e Geraldo Bretas (Emissoras Associadas)
Intervalo: Fernando Solera e Leônidas da Silva (Emissoras Independentes)
2º Tempo: Geraldo José de Almeida e João Saldanha (Rede Globo)

21 de Junho, Domingo
15h00: Brasil 4x1 Itália - Cidade do México
1º Tempo: Oduvaldo Cozzi, Geraldo Bretas, Walter Abrahão e Rui Porto (Emissoras Associadas)
Intervalo: Geraldo José de Almeida e João Saldanha (Rede Globo)
2º Tempo: Fernando Solera e Leônidas da Silva (Emissoras Independentes)

Video-tapes, transmissão pela EMBRATEL às 23 horas:
1 de Junho - México x União Soviética
2 de Junho - Peru x Bulgária
3 de Junho - Brasil x Tchecoslováquia (23h30)
4 de Junho - Inglaterra x Romênia
5 de Junho - Uruguai x Israel
6 de Junho - Brasil x Tchecoslováquia (11h00) e Bélgica x El Salvador (23h00)
7 de Junho - Brasil x Inglaterra (23h30)
8 de Junho - Itália x Suécia
9 de Junho - Alemanha Ocidental x Marrocos
10 de Junho - Brasil x Romênia
11 de Junho - Romênia x Tchecoslováquia
12 de Junho - Bélgica x União Soviética
13 de Junho - Inglaterra x Tchecoslováquia (11h00) e Peru x Marrocos (23h00)
14 de Junho - Brasil x Peru (23h30)
15 de Junho - Alemanha Ocidental x Bulgária
16 de Junho - México x El Salvador
17 de Junho - Suécia x Israel
18 de Junho - Alemanha Ocidental x Peru
19 de Junho - Suécia x Uruguai
20 de Junho - Brasil x Uruguai (11h00) e União Soviética x El Salvador (23h00)
21 de Junho - Brasil x Itália (23h30)
22 de Junho - México x Bélgica
23 de Junho - Itália x Israel
24 de Junho - Bulgária x Marrocos
25 de Junho - Uruguai x União Soviética
26 de Junho - Alemanha Ocidental x Inglaterra
27 de Junho - Itália x México
28 de Junho - Itália x Alemanha Ocidental (23h30)


Continuem acompanhando o blog ÊHMB De Olho Na TV. A segunda parte de As Copas na Telinha será publicada num dia como hoje, caso não tenhamos programação antiga para ser postada. Portanto, fiquem ligados e atentos!
Imagens pegas do Google Images, YouTube, prints da internet e do blog Colecionador de Copas de Thiago Uberreich.