HISTÓRIA: Semana Maldita na Globo

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quinta-feira, 3 de agosto de 2017

OPINIÃO: Os Novos Trapalhões

Um dos programas mais cultuados e até certo ponto combatidos da história da TV brasileira comemorou quatro décadas Globais e ganhou uma nova versão para deleite dos fãs e, por tabela, para que uma nova geração de telespectadores possa conhecer o tipo de comédia que é feito especialmente ao público infanto-juvenil: Os Trapalhões.
Pra quem reclamava da escassez de programação infantil na TV aberta brasileira (um desenho animado e olhe lá), esse programa cai como uma luva para os telespectadores mirins, até porque, ao longo da história, a trupe de Renato Aragão, de forma despretensiosa, conquistou as crianças e conforme o tempo foi passando, acabou se segmentando a esse tipo público explorando um recurso bastante utilizado no cinema de antigamente: o gênero "pastelão" ou, pra quem preferir, "humor bobinho". Os críticos de plantão, aquela gentalha odiosa que esgota seu estoque de ódio pra cima do "Doutor Renato" precisa compreender que Os Novos Trapalhões é direcionado exclusivamente às crianças, mas que não deixa de garantir o lazer a todas as idades (a família se reúne na sala e garante sua pipoca).
O roteiro não está 100% as mil maravilhas, mas dá pro gasto a proposta oferecida pelo programa, o resgate da comédia pastelão, espécie em extinção que transmite a impressão de que precisa ser preservado e que ainda causa graça a todas as idades. Os atores que compõem o novo quarteto impressionam com perfeição o estereótipo de cada personagem: Lucas Veloso (Didico) lembrou o Didi dos anos 60 e 70; Mumuzinho (Mussa) comprovou que veio do sangue todo aquele molejo herdado pelo seu tio Mussum até na forma de andar no set; Guilherme Santana (Zaca) conseguiu se caracterizar igualzinho ao saudoso Zacarias e aproveitou muito bem a chance que lhe foi dada de viver o personagem, pra parar de fazer só careta como ele fazia nos tempos do Pânico; porém erraram em escalar o galã Bruno Gissoni na pele do Dedeco, o estereótipo do personagem seria alguém com cara de descendente de italiano, tipo um paulistano da Moóca, super esquentado e com fama de briguento, assim como era mais ou menos o Dedé de antigamente. Já o Nego do Boréu proporcionou alguns momentos divertidos caprichando nas caretas e na voz rasgada para vivenciar o também saudoso Tião Macalé, mas muita gente implicou pelo fato do cantor encarnar um "personagem de si mesmo", só que acabou faltando o "janelão dentário" (mesmo que seja maquiagem), algo que foi característico do falecido comediante quando disparava o "Nojento! Tchan!", e faltou a "criola difícil", ficou no estereótipo.
Vários atores importantes participaram dos dez programas exibidos na última semana pelo Canal Viva ajudando no andamento das esquetes e despertando o interesse do telespectador. Porém, a grande ausência foi de Roberto Guilherme, ainda vivo, para interpretar o vilão, o "homem mau", estereótipo que lhe marcou como o "escada" de Didi e cia. Apesar de tudo isso, os originais Didi e Dedé não tinham a mínima necessidade de também integrarem o elenco e nem fariam falta nenhuma numa próxima temporada, se é um revival, então deixa o novo quarteto brilhar sem a intervenção dos dois veteranos. Sem contar a Nova Escolinha, um exemplo bem comparável de revival da comédia pastelão é o filme Os Três Patetas, no qual o trio de atores se caracterizou igualzinho com os personagens e fez divertir uma nova geração além de resgatar a natural nostalgia do público mais maduro.
Só um idiota é que pode vociferar e implicar com a nova versão do programa só pelo fato de aderir a "cartilha do politicamente correto". Mas para quem prestou atenção nos programas, toda vez o Didi vinha e falando "agora os tempos são outros, nós estamos em 2017". O humor para crianças é totalmente diferente do humor para marmanjos (cujo público é a maioria esmagadora nas redes sociais), é um tipo de comédia que requer grandes cuidados e que explora esse nicho de "piadas bobas" que as crianças gostam, ora essa, um humor mais visual e requentado de pastelão, como frisei inicialmente. Se o humor para marmanjos for usado com SUTILEZA em qualquer programa de humor, aí tudo bem. O humor para marmanjos era o tipo de humor que Os Trapalhões dos anos 70 e 80 usavam de maneira transbordante, esse humor no qual muita gente reclama do "politicamente correto", no qual considero uma forma de CENSURA.
Pra terminar, um diálogo que poderia sofrer piadas maldosas do trollers de plantão: na cena em que o novo quarteto estava numa balada, Zaca vê o Didi chegar e exclama: "Didi, você por aqui!". Algum odioso de Aragão manipularia o fato colocando a seguinte réplica: "Pro senhor é Doutor Renato", que faria o diretor da cena a gritar "Corta!". Isso porque espalhou-se na internet uma história de veracidade duvidosa do sujeito que cruzou com Renato Aragão nas ruas do Rio de Janeiro, no auge d'Os Trapalhões, fazendo aquela mesma exclamação do Zaca e o próprio Aragão teria dado aquela mesma resposta atravessada, fazendo o sujeito anônimo cair em depressão com a frase: "O que seria o dia mais feliz da vida tornou-se o dia mais triste de todos" e teria morrido logo depois. Isso parte de gente que adora idolatrar o Mussum e ao mesmo tempo demonstrar ódio mortal ao "Doutor Renato". Dos momentos antológicos, faltou A Velha Debaixo da Cama onde poderíamos ver Didico fazendo o Zaca dormir cantando a tal canção de ninar, mas pelo menos o Papai, Eu Quero me Casar marcou presença e sugiro aqui novas estrofes também adaptadas a nossa atualidade:

Papai, eu quero me casar
Oi, milha filha, ocê diga com quem
Eu quero me casar com seu Joesley
Com seu Joesley ocê num casa bem
Porque papai
O seu Joesley delatou o presidente
E adepois vai delatar ocê tumém

Papai, eu quero me acasar
Oi, minha filha ocê diga com quem
Eu quero me casar com Silvio Santos
Com Silvio Santos ocê num casa bem
Porque papai
O Silvio Santos só quer saber quanto é a multa
E adepois vai amultar ocê tumém